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Traduções:
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Gustavo A. Castiñeiras |
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A MÚSICA DA BAHIA Música Folclórica: Bahia
Singular e Plural
Música folclórica, regional e breve roteiro para aquisição
Reprodução parcial do texto de Consuelo Pondé de Sena,
Presidente do Instituto Geográfico da Bahia:
"Das expressões inglesas 'folk' (povo) e 'lore' (saber,
conhecimento) deriva o composto 'folclore', empregado pela
primeira vez por William John Tohms, sob o pseudônimo de
Ambrose Merton, na revista "Althaneum", no número de 26 de
Agosto de 1846, em substituição à expressão antiga 'Antigüidades
Populares'. Folclore, portanto, traduz a ciência e o saber
do povo. Dado o seu caráter popular, o âmbito do folclore se
circunscreve às maneiras de pensar, sentir e agir das
classes menos cultas da sociedade civilizada".
Bahia Singular e Plural é, até este momento, uma coleção de
seis cd's que reúne 92 gemas músicais do folclore baiano,
projeto que nasceu da união de forças empreendidas pelo
Governo da Bahia, RE - Rádio Educadora, TVE Bahia, Fundação
Cultural do Estado da Bahia e IRDEB - Instituto de
Radiodifusão Educativa da Bahia e boa noticia: mais dois
volumes estão previstos para serem lançados antes que o ano
2002 DC apague suas luzes.
Por mais que eu venha a escrever sobre a grandiosidade e
ineditismo deste trabalho não cobrirei toda a gama de
detalhes e significados que esta coleção traz contida -
muito bem explicados nos encartes. De todos os trabalhos
musicais a que tive acesso ou noticia este foi o que mais me
impressionou e seguidamente a cada canção me surpreendeu
favoravelmente em todos os aspectos.
A pesquisa e direção musical para a feitura destes trabalhos
ocorreu pelo maestro e etnomusicólogo Fred Dantas, também
responsável pela direção musical, gravação e transcrição das
partituras dos CDs.
Todas as gravações foram empreendidas por vigoroso trabalho
de campo, ou seja, uma gravadora móvel, de 8 canais de
excelente qualidade técnica - foi deslocada para registrar
vozes e instrumentos no local de origem da manifestação
popular - cidades, povoados, vilas e roças - e o mais
impressionante, além do ineditismo absoluto da empreitada, é
a qualidade técnica do resultado dos registros gravados que
não fica nada a dever para a qualidade das majors do disco.
Através da audição dos cd's voce vai compreender de quais
origens se derivaram toda a criatividade e genialidade da
música contemporânea baiana, e também a brasileira, já que a
Bahia é o berço musical do país segundo Luis Américo Lisboa
Junior, pesquisador de história da música popular brasileira
e que escreveu "Breve Histórico da Música Brasileira", texto
para o encarte do cd "Sambas do Além", do qual destaco
trecho:
"Nossa história musical começa em 1 de Janeiro de 1552,
quando é nomeado o primeiro Bispo para a Bahia pela coroa
portuguesa, D. Pero Fernandes Sardinha, que trouxe consigo
um músico Mestre da Capela para ensinar tal disciplina aos
alunos do Colégio dos Jesuítas. Mais adiante, Eusébio de
Mattos, irmão de Gregório de Mattos, mais conhecido por Frei
Eusébio da Soledade, nascido na Bahia em 1629, exímio
tocador de harpa e viola, compondo hinos religiosos e
profanos, tornou-se o responsável pela formulação das
primeiras regras de ensino de música na Bahia".
Imagino que em 1629 o projeto do multi-instrumenta, Frei
Eusébio de Mattos, tenha sido de uma grande audácia por ser
o frei em epigrafe, compositor também de temas profanos.
A consequência desta audácia musical veio a se refletir -
quase quatro séculos depois - no acervo registrado na
coleção Bahia Singular e Plural onde os temas sagrados se
fundem aos profanos sem causar qualquer estranheza ao
ouvinte.
A série é abundantemente matriarcal em gêneros e aspectos
músicais: cantos de trabalho, cantos de influência africana,
de miscegenação religiosa, sambas-de-roda, cirandas, sambas-rurais,
louvores, cerimoniais, folias, reisados, cantigas de amor,
poemas, lutas, choro, samba-brasileiro, cantos de lavagem,
de vizinhos, chegança, parentes e colheita, a lista de
manifestações é extensa e ainda falta muito a mapear
musicalmente conforme você atestará graficamente no mapa
dentro do site (calma que o apetitoso link informo depois,
ainda não é hora, lê mais um pouquinho para não chegar na
página do Irdeb marcando bobeira).
Os temas sagrados curiosamente e independente da crença de
quem os ouvirá, também são peças bastantes agradáveis de se
ouvir já que não se tratam de ladainhas de missais mas sim
de resultado da fé genuína de uma gente que festeja
intensamente suas crendices.
Já os temas profanos são multidiversificados e espelham toda
a beleza, ingenuidade, graça e valores humanos legítimos da
gente da Bahia, um banho de profunda e saudável brasilidade
- sem esperteza e/ou malandragem, argh - e que nos remete a
um Brasil que nós, os urbainóides, julgamos erroneamente
inexistente.
O que, além da música, chama sobremaneira a atenção, são as
formações comunitárias que as interpretam, grupos ou
formações de habitantes locais que são constituidos por
pessoas com idades variando entre 10 e 80 anos o que me faz
acreditar que a tradição de transmissão oral e comunitária
destes temas musicais felizmente tende a permanecer pela
história das gerações futuras.
A tradição de pessolmente transmitir músicas locais às
gerações que chegam, para prosseguir cantando-nas
comunitáriamente, é um dos grandes espetáculos humanos
proporcionados através da música, a reunião de pessoas com o
objetivo de cantar trata-se de um dos mais belos triunfos
das relações humanas.
O que é tudo de bom é que pela iniciativa conjunta de tantos
empreendedores podemos também, outros brasileiros e
estrangeiros , conhecer e principalmente desfrutar e se
encantar com a pureza d'alma do povo nativo, e claro, também
a pureza e delicadeza musical oriunda da arte de vida
comunitária, é esse o tema a que se propõe e vai se
configurando em êxito através da audição dos 92 registros
musicais.
Outro aspecto que revela o esmero e denso cuidado de
produção são as fichas técnicas e os encartes da coleção e
aqui vale a pena comentar que esta coleção se apresenta em
dois formatos: um mais resumido porém super satisfatório na
abordagem informativa e que conta a origem de cada canção e
de cada grupo, vindo encartada em caixas de cd's comuns e
custam R$15 por volume, o outro é no formato formato cartão,
e contém além da rica descrição da origem, as letras e a
partitura custando neste formato R$ 25 cada volume.
O trabalho gráfico para qualquer um dos dois formatos é
maravilhoso, digno de receber todos os melhores prêmios, os
textos narrativos de origem também são deliciosamente
escritos e aqui aproveito para acrescentar que a leitura dos
textos de encarte é peça fundamental para a compreensão e
plena aceitação dos temas populares.
Como curiosidade vou destacar dois aspectos bastantes
interessantes, o primeiro está contido no volume 1 da
coleção e faz referência à musica Abre a Porta e a Janela,
gravada pelo grupo Reis de Moças e foi gravada no Centro
Educacional de Italmar, em Conceição do Coité diz o texto do
encarte (trecho) :
"Os Ternos de Moças são expressão artística da classe média
urbana do interior, que, até o passado recente, costumava
fornecer aos grupos de reisado o melhor de sua juventude.
Existe uniformidade neste estilo de música, de cidade a
cidade: são marchinhas que se cantam andando ou à porta,
sambinhas e, eventualmente, uma valsa no interior da casa.
Os grupos, via de regra, solicitam o apoio de músicos da
cidade. Essa música comunitária e participativa - que a
maioria das cidades deixou perder - continua viva em Italmar,
sob a liderança de Francisca de Almeida Pinho e com um coro
de mulheres afinadas. A canção Abre a Porta e a Janela se
situa no terreno confuso de autoria não determinada, pois é
cantada em diversos locais com inúmeras variações. Sucesso
de cantores sertanejos nos anos 60, na década seguinte foi
tornada parte da célebre canção Preta Pretinha de Os Novos
Baianos....".
A outra curiosidade é o violonista Boanerges Chaves, filho
de Zeca Chaves, famoso seresteiro da cidade de Urbano de
Caititi. Aprendeu a tocar na serestas, de ouvido, o incrivel
é que na interpretação Chorinho Para Nós, Boanerges exibe
idêntica pegada de corda de Luiz Bonfá, que beleza!
Vasculhei a rede e fisguei um artigo do colunista d'O Estado
de São Paulo, Mauro Dias, datado de 9 de Janeiro de 2001
quando a coleção contava com apenas dois cd's editados, é um
texto com informações complementares a este e serve para que
voce observe o quão são verdadeiramente infinitas as
possibilidades a serem desvendadas por estes discos.
A coleção só é vendida através do site do IRDEB, calma que
já vou falar o endereço, como trata-se de uma fundação sem
fins lucrativos não pode explorar comercialmente seus
registros video/musicais.
Somente uma única loja comercial está autorizada a
comercializar o disco, a Pérola Negra, também em Salvador,
que além desta coleção comercializa excelentes titulos
regionais, foi lá que entre uma pá de discos sensacionais e
inéditos no sul maravilha, adquiri também os incriveis
discos de Bule-Bule de quem descolei biografia no site da
Universidade Federal da Bahia, e de Dona Teté de quem
encontrei deliciosa entrevista concedida para o jornal O
Imparcial do estado de Maranhão.
A loja Pérola Negra é também uma das raríssimas lojas que
estão comercializando o o primeiro cd - independente - de
Dona Edith do Prato (86 anos!!!) e que muitos conhecem
também como Edith da Veiga já que no disco Araçá Azul de
Caetano Veloso, lançado em 1972, ela faz a abertura cantando
soberbamente Viola, Meu Bem e neste mesmo Araçá Azul também
dividiu os vocais com Caetano em Sugar Cane Fields Forever.
Se voce quiser saber um pouco mais sobre este lançamento
leia a excelente reportagem por Giovanna Castro publicada na
edição de 14 de Setembro no Correio da Bahia.
Roberto Sampaio e todos os simpáticos co-proprietários da
Pérola Negra - sua mulher e seu filho - esmeram-se em
corretamente informar durante o atendimento ao cliente e em
manter variadíssimo estoque de músicas populares baianas e
nordestinas de modo geral, não tenho sociedade com o moço
nem levo vantagem pessoal alguma pela recomendação,
recomendo esta loja porque a rica vertente de música
regional é muito desprestigiada pelas grandes gravadoras que
tratam de promover comercialmente outros segmentos menos
nobres e poeticamente menos enriquecedores da excelente
música nordestina.
Os discos regionais que são comercializados na Pérola Negra
são aqueles que em sua grande maioria são originados em
tiragens de quantidades bastantes limitadas, se vocês
comprarem discos do Roberto, que muitas vezes compra a obra
gravada diretamente das mãos do artista, vão estar
incentivando diretamente os artistas, grupos folclóricos e
temáticos do nordeste brasileiro, quero ressaltar que a loja
Peróla Negra foi também uma das incentivadoras financeiras
do trabalho de gravação do último lançamento em cd de
Bule-Bule, Só Não Deixei de Sambar. O endereço eletrônico é
perolanegra.ssa@bol.com.br e o telefax é (71) 336.6997.
Quer mais informação? Chegou a hora: visite o site do IRDEB,
que além dos discos da coleção Bahia Singular e Plural
mantém uma incrível e farta fitotéca de registros sobre
estes assuntos, também disponiveis para venda ao consumidor
pelo e-mail irdeb.marketing@bahia.ba.gov.br ou pelo telefone
(71) 339.1224, peça para falar na Fitotéca, tanto para
adquirir discos quanto vídeos. No site você também vai poder
conhecer cada detalhe de cada canção e melhor de tudo: você
pode ouvir a música integralmente! O site, a exemplo dos
encartes de cd's, também contém ilustrações lindas.
Um recado: alô IRDEB, eu sou aquele turista paulistano que
ligou e se deslocou do Hotel Tropical da Bahia - o mesmo em
que se hospedou Michael Jackson, orgulham-se os
soteropolitanos - até vossa sede, no longíquo bairro
Federação, em Salvador, para adquirir esta coleção e fui
impedido de entrar na fitotéca por estar vestido de bermuda,
têninho, meinha e camiseta tipo jacarézinho, que é o
uniforme oficial da seleção de paulistanos em férias. Tem
nada não, mesmo tendo levado bastante em conta este
contratempo, vim até aqui para atestar publicamente os
imensuráveis valores artisticos e culturais de todos os
trabalhos chancelados por vossa instituição.
Parabéns a todos os que idealizam, participam e possibilitam
estas empreitadas que originaram estes registros audio-visuais
sobre o modo de vida, a gente e a arte popular baiana -
projetos como este Bahia Singular e Plural deveriam ser a
pauta obrigatória, a pedra de responsa para todos os
governos estaduais do Brasil. Parabéns também a Roberto
Sampaio que garimpa tantas preciosidades regionais para
atender sua seléta clientela, só quem conhece a
inacreditável dificuldade em se encontrar as boas músicas
folclóricas e regionais nas gondolas de lojas de cd's sabe o
que representa esta iniciativa.
Fonte: Waldemar Pavan -
digestivocultural.com |
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